A segunda edição da Revista Humanus consolida uma estratégia de educomunicação junto
aos estudantes do Ensino Médio do Colégio São Luís. Resultante do empenho das áreas de
Ciências Humanas, Ciências da Natureza e de Linguagens, a revista cria a oportunidade de
reflexão e sistematização do conhecimento aos alunos e alunas jornalistas. O novo currículo
do colégio é um convite a experiências como essa. Desenvolve-se a criatividade, a capacidade
de trabalhar em equipe, a competência comunicativa e lógico-analítica em um processo de
pesquisa e produção da consciência sobre temas extremamente relevantes.
Os artigos da revista revelam as escolhas dos estudantes por temas urgentes. Poderiam ter
optado por questões triviais, mas saltam aos olhos reflexões sobre preconceitos,
estereótipos, racismo, intolerância e desigualdades sociais.
São urgências que demandam nossa atenção e ação, assim como a da imigração, déficit de
moradia, evasão escolar e polarização política. Uma escola jesuíta tem por finalidade formar
homens e mulheres para os demais. Para nós, educadores, é confortante observarmos os
interesses de nossos estudantes. Não é possível ser um cidadão fraterno, que tenha cuidado
com o próximo, sem conhecer as estruturas que mantém as situações de injustiças.
A questão ambiental também se destaca entre os artigos e confirma que o processo de
amadurecimento de nossos alunos segue em sintonia com as preferências apostólicas dos
jesuítas. O cuidado com a casa comum passa pela atenção à situação da Amazônia, à crise da
água, às mudanças climáticas e à biopirataria. O humanismo que queremos praticar passa por
uma visão interdisciplinar, permitindo o olhar atento às conexões presentes entre o mundo
em que vivemos e a forma como o habitamos. O cuidado com a Humanidade passa pela
solidariedade, pela consciência de que as pessoas precisam umas das outras, de que nos
realizamos no outro e para o outro. Passa também pela necessidade de construirmos a
consciência sobre a sustentabilidade, não apenas a respeito do ambiente em que habitamos,
e a cultura.
A palavra cultura deriva da expressão latina colere, que significa cuidado. É curioso pensar
que o termo, antes de significar o cuidado com o espírito, significou o cuidado com a terra,
com a agricultura. Hannah Arendt, em um ensaio reflexivo sobre a cultura de massa, lembranos
a importância desta como o meio de dar perenidade e sustentabilidade ao mundo. Nesse
sentido, os textos dedicados às diferentes formas de arte trazidos por nossos estudantes são
muito significativos. Chamam a atenção do leitor para a importância de reconhecermos a arte
como uma potente ferramenta de conscientização, capaz de promover a reflexão e a ação.
A arte naturalmente relaciona-se com a política, na medida que promove o pensamento e a
significação do mundo.
Dessa forma, ao avaliarem a representação artística dos problemas ambientais, a presença da
negritude e dos povos indígenas na arte, o patrimônio histórico de São Paulo, nossos autores
não só apontam para a racionalidade dos temas, como ativam nosso corpo sensório. As
discussões sobre cinema, Machado de Assis, Independência do Brasil também são
contribuições fundamentais para a reflexão de cidadãos responsivos, que devem
compreender e cuidar de seu país em todos os sentidos. A revista Humanus, resultado do
esforço e paixão de nossos estudantes e professores, é um exemplo que materializa a
pedagogia de inspiração inaciana. Todo o trabalho realizado partiu de um contexto; promoveu
a experiência da pesquisa, sistematização e edição dos textos, como resultado de reflexões
que extrapolam a sala de aula com esta bela edição. A própria revista é fruto da ação
pedagógica, mas é também ação transformadora na medida em que propõe a qualificação do
debate e a pensamento crítico de toda a comunidade educativo. Obrigado aos educadores e
estudantes envolvidos neste projeto maravilhoso!

Rafael de Paula Aguiar Araújo

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